A auxiliar de limpeza Simone da Concei??o mora em Guaianases, na zona leste de S?o Paulo. Todos os dias, ela sai de casa ¨¤s 4h45, pega um trem e mais tr¨ºs linhas de metr? at¨¦ chegar ao Hospital da Associa??o de Assist¨ºncia ¨¤ Crian?a Deficiente (AACD), no bairro de Ibirapuera, na zona centro-sul da capital paulista. Uma linha, em particular, foi fundamental para que ela aceitasse o emprego e conseguisse estar pontualmente ¨¤s 7h: a 5 (lil¨¢s), que passa pelo hospital e foi apoiada pelo Banco Mundial.
¡°Sem ela, morando onde eu moro, eu n?o viria trabalhar aqui porque ¨¦ totalmente fora de m?o e eu nunca chegaria no hor¨¢rio. Com a linha 5, ficou bem mais c?modo e r¨¢pido¡±, comenta.
A hist¨®ria dela ¨¦ como a de milh?es de pessoas no Brasil e no mundo: ter acesso a transporte p¨²blico de qualidade representa a diferen?a entre aceitar ou n?o um novo trabalho, seja para sair do desemprego, seja para conquistar condi??es melhores. Significa chegar ao servi?o no hor¨¢rio ou se atrasar e correr o risco de uma demiss?o.
At¨¦ 2017 ? quando foi inaugurado o trecho Alto da Boa Vista-Brooklyn ?, a linha 5 ia do Cap?o Redondo, regi?o de baixa renda no sudoeste da capital, at¨¦ o Largo Treze, em Santo Amaro. Ela s¨® se conectava com a linha 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o que exigia outras transfer¨ºncias para acessar o centro e a tornava pouco atrativa para os trabalhadores.
Para resolver o problema, foram feitos investimentos de US$ 650 milh?es do Banco Mundial. O empr¨¦stimo financiou a aquisi??o e instala??o de 26 novos trens e equipamentos de sinaliza??o, bem como portas de plataforma para todas as esta??es da Linha 5.
O governo do estado de S?o Paulo entrou com US$ 3,1 bilh?es (sendo US$ 367,1 milh?es por meio de financiamento com o BID) para obras civis, como t¨²neis, esta??es e p¨¢tios de manuten??o. Finalmente, um parceiro privado, a ViaMobilidade, arrematou, por meio de concorr¨ºncia p¨²blica, a concess?o para operar a linha por 20 anos, at¨¦ 2038, com a obriga??o de investir R$ 88 milh?es em readequa??es e melhorias.
Tudo isso tornou poss¨ªvel a chegada da linha 5 at¨¦ a Ch¨¢cara Klabin, no centro-sul de S?o Paulo, onde a popula??o pode se integrar com as linhas 1 (azul) e 2 (verde) do Metr?. E, no trajeto, ter acesso a empregos, tratamento de sa¨²de ¨C h¨¢ uma esta??o pr¨®xima aos hospitais da AACD e do Servidor, para mencionar apenas dois ¨C, servi?os p¨²blicos e outras oportunidades.
¡°O tempo de viagem de Cap?o Redondo at¨¦ a S¨¦, por exemplo, passando pela linha 5 e se conectando com a linha 1 do metr?, caiu de 99 minutos em um trajeto com carro e ?nibus para cerca de 50 minutos. ? uma redu??o muito importante e resulta em um aumento significativo no n¨²mero de oportunidades de emprego, educa??o, etc., que podem ser acessadas em at¨¦ uma hora¡±, detalha Edpo Covalciuk, especialista de Transportes do Banco Mundial.
¡°A participa??o do Banco Mundial foi fundamental n?o somente por conta do financiamento, mas tamb¨¦m por todo o apoio t¨¦cnico para auxiliar o Metr? de S?o Paulo e o governo do estado na implementa??o de um projeto de alta complexidade, como s?o projetos de metr?, sobretudo projetos de linha subterr?neas em ¨¢reas muito adensadas, como ¨¦ o caso de S?o Paulo¡±, completa o especialista.
Para a dona de casa Graziele Zonato, m?e de Filipe, 17 anos, a linha encurtou o tempo de chegada de Itaquacetuba, munic¨ªpio a leste da capital, at¨¦ o Hospital da AACD. L¨¢, o jovem faz acompanhamento m¨¦dico depois de uma cirurgia de tratamento para a paralisia cerebral. Hoje, eles fazem esse trajeto apenas uma vez por ano, mas houve momentos em que eram necess¨¢rias duas viagens por semana. ¡°O tempo que a gente demorava, de at¨¦ duas horas e meia, caiu para uma hora e meia¡±, comemora Graziele.
As mulheres, ali¨¢s, representam a maioria dos usu¨¢rios da linha: 56%. Os motivos pelos quais elas pegam o metr? s?o mais diversificados, o que pode ser explicado pelo fato de que, em geral, as mulheres acabam acumulando pap¨¦is de cuidado com a casa e a fam¨ªlia. Nesse sentido, a linha 5 ¨¦ transformadora porque evita transfer¨ºncias mais longas em rotas perigosas e inseguras. Al¨¦m disso, ao longo das esta??es, ¨¦ poss¨ªvel encontrar campanhas contra o ass¨¦dio sexual, bem como canais de den¨²ncia.
Filipe, por sua vez, elogia a acessibilidade, em especial a dos elevadores, que s?o pr¨®ximos ¨¤ entrada. ¡°Prefiro us¨¢-los a pegar a escada rolante¡±, conta ele, que terminou o ensino m¨¦dio e hoje sonha com um emprego na ¨¢rea de rob¨®tica.
O juiz de casamentos Paulo Henrique de Menezes, 66 anos, ouviu a dica de duas colegas de trabalho e descobriu no come?o de 2024 as vantagens de ir para o trabalho usando a Linha 5. Atualmente, ele deixa o carro em uma das esta??es e usa o metr? para completar o trajeto at¨¦ o Centro. ¡°Dirigindo, eu j¨¢ chegava cansado. Hoje n?o pego tr?nsito, os trens s?o limpos e confort¨¢veis. Vou ouvindo as pessoas e suas hist¨®rias¡±, diz Paulo, que j¨¢ encontrou nos vag?es homens e mulheres cujos matrim?nios ele celebrou. ¡°Agora estou usando o metr? inclusive para algumas sa¨ªdas nos fins de semana¡±, ele completa.
O jogador de futebol Micael da Cruz, 17 anos, morador do Jardim das Rosas ¨C bairro que integra o Cap?o Redondo ¨C muitas vezes pegou a linha 5 para ir e voltar das peneiras. ¡°? muito ¨²til¡±, resume ele, que vai duas vezes por semana a Santo Amaro treinar na Next Academy. H¨¢ seis anos participando das sele??es para times, o volante em breve mudar¨¢ de rotina: ele foi escolhido para jogar em uma equipe de Sorocaba. Por isso, deve trocar as viagens de metr? pelas caronas do pai. O sonho ¨¦, daqui a uns anos, rodar o mundo como atleta. A linha lil¨¢s ter¨¢ feito parte dessa hist¨®ria.